sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ensaio Final – O Primeiro Príncipe (I)


Tão belo quanto a própria Beleza...

O primeiro príncipe a ultrapassar a muralha se chamava Theodore, o Belo. Ele realmente tinha uma aparência que justificava o título, e por causa disso, era muito popular com as mulheres. Theodore era egocêntrico, narcisista e superficial, e sempre encarava uma conquista como mais um troféu para sustentar o seu ego.
Quando o príncipe soube da existência da princesa, imediatamente mandou chamar todos os seus servos.
- Fiquei sabendo que a mulher mais bela de todas mora em um castelo distante desse reino, e lá se mantêm cativa. Disseram-me também que ela jamais aceitou o pedido de um pretendente... Isso é verdade?
E dentre os seus servos, todos confirmaram a história. O príncipe sorriu, e era incrível como ele conseguia exibir todos aqueles dentes brancos de uma só vez.
- Veremos se ela consegue resistir ao meu charme! Aceito o desafio. Ordeno que me levem até a Princesa do Coração de Gelo!
E assim foi. O príncipe partiu no mesmo dia com sua comitiva, até a terra longínqua onde se dizia estar o castelo da lendária princesa (ufa, que frase longa!). Foram semanas e semanas de dificuldades, tendo que suportar o calor, mosquitos e outras situações pelas quais o pomposo príncipe jamais precisou passar. No final do percurso, pelo menos conseguiram chegar ao seu objetivo: a muralha do castelo.
- Montem uma barraca, montem uma barraca! – ordenava Theodore, aflito. – Preciso descansar e me recuperar totalmente dessa viagem... Não posso encontrar a Princesa desse jeito!
E enquanto repousava, continuava a mandar:
- O jantar está demorando demais, seus imprestáveis! E não se esqueçam de preparar o banho de leite de cabra! Servos, onde estão meus produtos de beleza! Servos, tragam as minhas marombas! Preciso manter a forma... Andem logo!
No dia seguinte, a comitiva nem parecia que já tinha montado acampamento: todos estavam sujos, exaustos e famintos, com exceção do príncipe, é claro.
- Muito bem! Agora que estou de volta ao natural, vamos encontrar a Princesa de uma vez por todas! Preparem o meu Alazão! Depressa!
Logo, os servos que ainda conseguiam ficar de pé vinham trazendo um elegante cavalo branco. O mais impressionante na sua aparência é que ele tinha um par de asas e sabia voar como um pássaro.
- Alazão, meu menino! – disse o príncipe, afagando a crina do animal, como se fosse um membro da família. – Está preparado? Temos uma Princesa Gelada para conquistar!
- Errr... é a Princesa do Coração de Gelo, senhor... – corrigiu o servo mais próximo.
- Que seja! Vamos! – e partiu com o corcel pelos céus, ultrapassando tanto a muralha quanto o fosso de lava. Antes que pudesse alcançar a torre, porém, foi atingido por uma bexiga cheia de água.
- O quê...? – exclamou surpreso. – Onde...? Quem...?
- Vai perguntar o porquê, também? – disse uma voz, vinda da janela da torre. A Princesa do Coração de Gelo estava debruçada ali, com um sorriso irônico nos lábios e uma bexiga laranja na mão. Foi amor a primeira vista... Para o príncipe, é claro. Nenhuma mulher tinha jogado uma bexiga cheia d’água nele antes. Que ousado, que atraente, que mulher! Realmente, era linda como diziam, portanto mais do que adequada para ele, obviamente.
Batendo com os calcanhares nos flancos de Alazão, Theodore o guiou suavemente até a janela da torre de marfim. Ele sorriu, mostrando todos aqueles dentes brancos e brilhantes, e inflou o peito, no que achava ser uma postura bem máscula.
- Princesa, não tema! – começou ele. - Sei que por muitos anos tem esperado sozinha, enclausurada aqui nessa torre. Mas a sua espera termina aqui e agora, pois eu finalmente te encontrei! Meu nome é Theodore, o Belo, príncipe do reino ao Sul e estou aqui para libertá-la! – e sorriu novamente, todo confiante. – Venha, suba no lombo do meu...
- Com licença, você poderia parar de sorrir desse jeito? – interrompeu ela. – É que todos esses seus dentes brilhantes vão acabar me cegando... Obrigada!
O príncipe não parou de sorrir, mas resolver fazer isso com maior discrição. Analisou a princesa por completo e deu uma piscadela, lançando seu famoso olhar 43...
- Então, gata, o que estamos esperando? Venha comigo e eu te levarei para os céus! Você e eu fomos feitos um para o outro. É só olhar para nós, somos tão belos que constrangemos as outras pessoas. Nada mais certo que fiquemos juntinhos, não acha?
Dessa vez foi a princesa que o analisou dos pés a cabeça. O tal Theodore era mesmo bonitão, alto, posudo, forte e malhado. Mas, tinha alguma coisa nele estranha... sem falar que ele era muito sem noção.
- Vem cá, você tá falando sério? Você chega aqui assim, do nada, e já vem me falando essas lorotas... se enxerga! Uma dama tem que ser conquistada, você não pode me pegar e levar no lombo do seu pangaré assim, sem mais nem menos.
- Conquistá-la? Mais eu já não fiz isso, minha cara? Eu não estou aqui bem na sua frente? As mulheres se apaixonam profundamente só de olhar para esse rostinho lindo que Deus me deu!
Ao ouvir isso, a princesa deu uma gargalhada que pode ser ouvida do outro lado da muralha.
- Como é? Tá de brincadeira, né? Afe... já vi que você não sabe nada de mulher. Tchauzinho!
- O quê? E-espere! - interrompeu ele, nervoso. - Princesa, não se faça de difícil, nos fomos feitos um para o outro! Como as metades da laranja, o pão e a manteiga, o arroz e o feijão...
- Olha, já chega, tá? Calado, você é um poeta. - e fechou a janela.
Ao entrar na alcova, seu primeiro pensamento foi esse: "Que pena... era tão bonitão, chega a ser um desperdício...". Lá fora, Theodore, o Belo, chamava pela princesa, discursando sobre seus dotes físicos e como tinha certeza que ela só estava fazendo charme.
- Mas que droga... quando é que vai me aparecer um homem decente? - resmungou ela, comendo uma generosa porção de batatas-fritas.

Foi então que apareceu o Segundo Príncipe.

CONTINUA...

Leia também: "A Princesa do Coração de Gelo"

(Next: O Segundo Príncipe)

Imagem: Pegasus__fading_by_SMcNonnahs

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ensaio Final – A Princesa do Coração de Gelo



Era uma vez, em um reino não tão distante...

Uma Princesa solitária que vivia em uma torre de marfim. Essa torre era a torre mais alta de um castelo cercado por um fosso cheio de lava. Apenas uma ponte estreita servia de passagem, isto se alguém conseguisse chegar até ali. Digo isso porque, além do fosso, uma gigantesca muralha de aço negro barrava a passagem dos viajantes, que deveriam refazer o caminho circundando o lugar. Não havia portas ou passagens secretas em toda a extensão da muralha. Por mais poderosos que fossem os exércitos, por mais furiosas que fossem as tempestades, ela permanecia firme e inabalável.

Mas, voltemos à Princesa. Ela era linda (e se achava ainda mais linda do que realmente era). Sua beleza lendária era conhecida por todo o reino e ia além dele, o que chamava a atenção de muitos jovens aventureiros que desejavam vê-la com os seus próprios olhos. Porém, mesmo que eles conseguissem ultrapassar a muralha, alcançar os portões do castelo e subir até a torre mais alta – o que nunca acontecera - de nada adiantaria. A Princesa, apesar de tão bela, tinha o coração feito de gelo e nunca aceitaria o pedido de um pretendente.

O porquê de o seu coração ter se tornado tão frio, ninguém sabe. Dizem que há muito tempo, ela sofreu uma terrível decepção amorosa. Outros, que ela foi amaldiçoada por uma bruxa malvada e invejosa. Eu particularmente não sei. Talvez nem ela mesmo saiba...

Bom, vocês vão entender em breve.



(Next: Parte I - O Primeiro Príncipe)


Créditos de Imagem: ice_heart_by_chmstudio4




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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Especial - Desventuras Juninas


 "Alavantú..."

   Junho: mês de santos, de festividades, de comidas típicas, de tradições. Entretanto, para um cara anti-social como eu, tudo não passa de um grande tormento. Durante trinta longos dias terei que suportar o triplo das músicas de forró de gosto duvidoso, além do estrondo das bombas rojão, do cheiro "ambiente" de pólvora, da fumaça ardendo nos meus olhos (me fazendo chorar de raiva) e de uma infinidade de comidas sem graça feitas de milho (eu não gosto de milho). Se eu tentasse mencionar tudo, teria que reviver o mês inteiro, o que eu com certeza não quero fazer. Mas, dentre todas essas coisas "agradáveis", existe uma da qual eu fujo como o diabo foge da cruz: a dança.

   Não me levem a mal, eu até gostaria de dançar agarradinho, tirar uma casquinha, cheirar o cangote de uma matuta e me aproveitar de sua inocência (mesmo que fingida). O problema, o GRAVE problema, é que eu nasci com uma total incapacidade para a dança... O velho "dois pra lá, dois pra cá", para mim, é mais complexo do que física quântica. Sério. Muitas garotas já tentaram me ensinar, de primas à namoradas, mas nenhuma delas conseguiu o milagre de me fazer dançar ao menos o básico.

   Uma vez, convidei a garota mais gost.., digo, bonita do bairro para dançar um arrasta-pé no palhoção. Ela me olhou dos pés a cabeça, mas parecia surpresa com a minha ousadia (afinal, não sou lá essas coisas) e acabou concordando. Foi um dos maiores vexames da minha vida... acho que até hoje o pé esquerdo da garota não deve ter se recuperado, sem falar que eu quase tropecei em cima dela. Não chegou nem a durar uma música inteira para ela me dispensar. E o pior: depois dessa, fiquei a ver navios, pois qual era a doida que aceitaria dançar comigo? Era melhor ficar só na pamonha, mesmo não fosse a minha vibe.

   No ano seguinte, tentei dar uma de esperto e convidei a garota mais feia do palhoção para dançar. A lógica foi essa: convidar primeiro as mais feias, para tentar aprender o básico sem me preocupar com o vexame, e só depois arriscar vôos mais altos. Mas foi um desastre. Eu não só pisei no pé dela como também, depois de me empolgar um pouco, tentei rodopiá-la e acabei derrubando a besta-fera no chão. Depois dessa, nenhuma garota quis correr o risco...

   É claro que, depois de muitos fracassos, acabei desistindo. Minhas namoradas (falo no plural não por terem sido muitas, e também não por terem sido ao mesmo tempo, mas você deve ter entendido) até tentaram, mas eu sempre dava uma desculpa esfarrapada... Tá, eu até tentei aprender alguma coisa com elas, mas paciência é uma virtude da qual minhas namoradas pareciam jamais ter ouvido falar. Aí, fica difícil...

   Esse ano, protelei o quanto pude, mas chegou uma hora que não teve mais jeito e tive que ir. Chegando lá, começou a chover, e o pessoal correu para se abrigar no palhoção. Mas a chuva estava muito forte e acabou estragando a festa de qualquer jeito; o lugar foi ficando vazio e desanimado. Aproveitei para arrastar o bonde e sugeri que voltássemos para casa.

   No caminho de volta, minha namorada provocou:

  - Você bem que gostou, não é...? Parece até que jogou praga! Poxa, tava tão afim de dançar...
 - Claro que não, meu amor! - me apressei em responder. - Eu queria muito dançar com você, até andei treinando em casa, tô bem melhor sabia? Mas não esquenta, outro dia a gente vem... se você quiser... - disse, só para tentar agradar.

   Mas por dentro, deu vontade mesmo foi de gritar:

  - OBRIGADO, São Pedro! Fico te devendo uma!

(...)

"...Anarriê!"

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ensaio 1.2 - Resultado


"A dúvida é pior do que a certeza..."

   Ela acordou nervosa. Passou a noite em claro, afligida pelas suspeitas, adormecendo só pela manhã. A cabeça doía um pouco, estava indisposta naquela manhã. Esticou os braços e as pernas, rolou para um lado e continuou deitada na cama. Tentava não pensar, tentava esquecer, tentava pegar no sono, mas quando fechava os olhos sabia que não ia conseguir. A sua cabeça não parava de trabalhar, de imaginar, de antecipar uma realidade dura que estava cada vez mais perto, talvez há alguns cômodos de distância. Sentiu uma dor no baixo-ventre, uma vontade de urinar que, apesar de tentar segurar, ficava mais forte. Teve medo, muito medo. Também pudera, a bula dizia que o teste deveria ser feito, de preferência, "utilizando a primeira urina do período da manhã"...
    Engoliu em seco. Como podia ter vacilado daquela forma? Na hora, nem pensou direito. Mas sabe como é... No calor do momento a gente nunca pensa direito, tudo desaparece numa mistura de sensações... Foi tudo tão bom! Naquela noite tudo conspirou a favor deles. Estavam sozinhos, no maior clima romântico, namorando agarradinhos... não tinha como não rolar, né?
    Sorriu pela primeira vez naquela manhã. Ele era um cara bem legal, bonito e inteligente; se davam muito bem. Todo mundo dizia que eles combinavam. Até o pai dela, que nunca fora muito simpático com os seus amigos (principalmente os homens), falava bem dele. A família toda, aliás, era só elogios...
    Estavam sempre juntos. Ela o amava, tinha certeza. Nunca tinha sentido isso por nenhum outro cara... Se ela realmente estivesse grávida, como seria a reação dele? Será que ele ficaria ao seu lado? Ou será que... ele a abandonaria?
   Os minutos passavam depressa, a vontade de urinar ficava ainda mais forte. Levantou. Tinha escondido o teste na mochila e colocado esta no fundo do guarda-roupa, longe dos olhos curiosos da mãe. Depois de uns minutos, finalmente achou a mochila em meio a bagunça, e catou o teste lá dentro.
    Engoliu em seco. Estava na hora... Seguiu hesitante em direção ao banheiro, as pernas um tanto trêmulas, a cabeça em outro lugar. Sua mãe não estava em casa... bom. Assim, teria mais privacidade, contava com isso. Já dentro do banheiro, abriu a embalagem que continha o bendito teste. Era agora ou nunca, pois já estava no limite e não podia mais segurar a ansiedade.

PROCEDIMENTO

1.  Coletar  a  urina  em  recipiente  limpo, seco  e  sem  conservantes.
2. Transferir a mesma urina para o coletor de plástico que se encontra na embalagem  do teste. Colocar a urina até a medida máxima de  10 ml  do  coletor,  não  encher  o coletor até a borda.
3. Abrir o envelope pela parte picotada e retire  a  Tira-teste,  segurando-a  pela parte superior da tira.
4.  Colocar  a  tira  no  coletor  de  plástico com a urina na posição vertical durante 10 segundos.  Ter cuidado  para  não deixar  ultrapassar  o  limite  indicado pelas setas (ver verso da embalagem).
5.  Coloque  a  tira  sobre  uma  superfície plana e aguarde 5 minutos.
6. Fazer a leitura.

Obs:  Não  considerar  resultados  lidos após 10 minutos.

   Afinal, não era difícil, o maior problema era o nervosismo. Após se certificar de ter feito cada passo do procedimento corretamente, colocou a tira sobre a tampa do vaso sanitário e se sentou ao lado, muito nervosa, o coração sufocado pelo medo e pela ansiedade. Olhava para os azulejos monocromáticos a sua frente, para as teias de aranha na base da pia, mas não olhava de jeito nenhum para o lado, para a tira em cima da privada... "Tomara que dê negativo, tomara que dê negativo, tomara que dê negativo", repetia para si mesma, aflita. Logo, os cinco minutos mais longos da sua vida haviam passado. Estava na hora de fazer a leitura do teste.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Piloto 1.0 - "Ele"



"Todas as histórias tem um começo, mas nem todas elas chegam a ter um fim."



- ... ele acordou.

   A Dra. Duarte esfregou os olhos algumas vezes antes de encarar a sua assistente, que parecia estar muito aflita. Ela endireitou-se na cadeira, sem pressa, e esticou os braços, espreguiçando-se. Segundo depois, conteve um bocejo, diante da ansiedade crescente da subordinada, e ajeitou o cabelo por trás da orelha. O relógio na parede marcava exatamente três horas da manhã. Tinha sido uma madrugada incomum, sem casos graves ou grandes transtornos. Era uma rara oportunidade para se dar um merecido descanso, deixando outros cuidarem das pequenas ocorrências... Há meses a doutora não tinha uma boa noite de sono. "Droga... Será que nunca vão me deixar descansar? Dormir e sonhar um pouco... Nossa! Ahhh... Como sinto saudades dos sonhos picantes das noites de inverno, das fantasias de quando eu era apenas uma doce adolescente... Mas agora, tudo o que me resta é trabalho, preocupações e mais trabalho! Nunca vou conseguir uma vida amorosa estável desse jeito...", pensou, aborrecida, enquanto se distraía com uma caneta esferográfica, passando-a por entre os dedos. Mas acabou derrubando a caneta no chão, devido ao susto provocado pela voz chiada de sua assistente. Nunca iria se acostumar com esses guinchos.

   - Doutora...! Por favor, diga alguma coisa!

  - Dizer o quê?! Laura, eu não disse para não me pertubarem? Ando muito cansada, eu preciso de uma noite de sono, e de preferência sem nenhum incômodo, entendeu?! - respondeu ela, irritada.

   - Mas... D-Dra. Duarte, a senhora ao menos me escutou? - insistiu Laura. Sua voz chiada conseguira se tornar ainda mais aguda. Isso sim era bastante preocupante. Na verdade, era pertubador.

   - É claro... - a doutora escolhia bem as palavras, ainda aborrecida. - Eu a ouvi, mas como estava um pouco cansada, não tenho certeza do que ouvi... poderia repetir, por favor?

   - Doutora, ele acordou!!! - chiou a assistente, que suava e ofegava copiosamente. A Dra. Duarte deu um largo bocejo.

   - Ele quem, criatura...? Isso é motivo para...
   Então, ela finalmente entendeu. Sua boca permaneceu aberta; seus olhos se arregalaram. A assistente se deu por vencida e desabou na cadeira mais próxima, ainda suando muito.

   - O quê?! Não acredito... Laura! Você está mesmo me dizendo que ele acordou?!! Não pode ser... O paciente "especial"? Aquele garoto?

  Laura confirmou com a cabeça. A doutora estava pálida. "Não pode ser verdade. Isso não está acontecendo". Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro da sala. Como queria estar sonhando agora! Como queria que essa chaleira velha não tivesse atrapalhado o seu descanso! "É isso! Isso só pode ser um sonho. Não. É um pesadelo. Logo eu vou acordar, e tudo vai voltar ao normal..." Fechou os olhos e contou até três, desejando com todas as forças...

   Mas, e se não for um pesadelo? E se for a mais pura realidade? Abriu os olhos. Laura ainda estava lá, suando muito, choramingando assustada. "É real... e impossível. Merda, mas que diabos eu devo fazer?!" Essa situação inesperada fugia totalmente dos cálculos. Como única representante do departamento presente, era de sua responsabilidade. Não havia ninguém em quem se apoiar, era a sua cabeça que estava em jogo no momento. "Pense, pense... o que o Dr. Niegson faria?"

   Quando o Dr. Niegson ainda estava a frente do Departamento de Neurologia da Lótus Corp., ele comandava o setor com pulso de ferro. A Dra. Duarte o admirava e o considerava seu mentor, um exemplo a ser seguido. Fora ele quem lhe apontou como sua "sucessora", e isso a envaidecia. "O Doutor não se desesperaria, se estivesse na minha situação. Ele se manteria calmo... Ele agiria. Não se esqueça das instruções, do objetivo principal da experiência... acalme-se!" repetia a Doutora para si mesma. Não podia se deixar levar pelas emoções. "Seja fria. Tem que haver uma explicação, eu só não estou analisando da forma correta..."

   Então, lembrou-se de uma informação muito importante. Depois de se certificar que seus cálculos jamais poderiam estar errados, o Dr. Niegson ordenou-lhe, antes de ser transferido, a comunicar-se diretamente com ele, caso ocorresse algo fora do padrão. "Por menor que seja o fator, não podemos deixar nada alterar o planejamento do experimento. Não se preocupe, Amélia, isso é apenas uma garantia. Se alguma coisa acontecer e você não souber o que fazer, ligue diretamente para esse número. Nós cuidaremos do resto", dissera, com firmeza. Era um número de celular, talvez o seu número pessoal. "Devo ligar?", ponderou a Doutora. Naquela época, sempre desejou ter um motivo qualquer para falar com ele... É interessante ver como as coisas mudam.

   Resolveu ligar. Se alguém podia acalmá-la, era ele. Já se imaginava mais tranquila ao ouvir que estava tudo bem, que ela não precisava se preocupar. Mesmo assim, não conseguiu conter o nervosismo, enquanto esperava que ele atendesse. Não seria melhor desligar? "Laura pode ter se enganado, eu não deveria incomodá-lo sem ter certeza absoluta do fato...". Antes que pudesse averiguar, porém, ouviu a voz dele do outro lado da linha.

- Alô?

   Entre falar e calar-se, a Doutora acabou se engasgando. Só agora percebera que ligara diretamente do seu celular. Agora tinha que ir até o fim.

- Dr. Niegson, d-desculpe incomodá-lo a essa hora...

- Amélia? É você? - perguntou ele. - Eu te disse para ligar apenas se algo importante tivesse ocorrido... o que houve? - o tom de voz dele parecia preocupado, bem diferente do que ela esperava. Ela hesitou. Depois de alguns segundos em silêncio, disse:

- ... ele acordou.

Perfil - Ressuscitando o Blog


"Phoenix Down*, já!"

   Depois de um hiato de três meses, aqui estou eu, numa tentativa épica de ressuscitar o Setor 3 e mantê-lo atualizado mensalmente! Peço desculpas aos meus poucos leitores pelo abandono, mas prometo tratar este espaço com mais zelo daqui em diante.
   Ah, e temos novidades! Estarei postando aqui alguns textos que servirão (ou não) como rascunhos para projetos futuros. E não é só isso. Novos ensaios sairão do forno, assim como novos especiais; continuarei a escrever os prólogos (estagnados desde o distante Prólogo I, lembram?) e outras seções terão mais destaque... Enfim, aguardem os próximos posts. Espero que curtam.

P.s.: Ah, estou estudando criar um novo layout para o Blog... alguma sugestão?

*Para quem não entendeu, é um item medicinal da série FF. Dar mais detalhes estragaria a piada... entende? xD

Imagem do título: Phoenix Down by Athenazero-d1natzh




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sábado, 1 de janeiro de 2011

Perfil - Ano Novo... no trampo!


"Feliz 2011!"

   Eu sobrevivi ao camarão, à maionese, ao champanhe meia-boca e à reunião de família, mas não pude escapar da sombra nefasta das malditas obrigações do estágio. Aqui estou eu, enfurnado na empresa, trabalhando que nem um condenado, em pleno dia 01, vulgarmente conhecido como Dia da Confraternização Universal e feriado sagrado decretado pela lei e consenso geral! Argh!
   Mas, deixando de lado a minha triste sina, desejo a todos vocês um Feliz 2011!!! Que esse ano seja cheio de fortes emoções e grandes realizações para todos nós. Espero que 2011 seja bem melhor que o ano que passou... Brindemos (nem que seja com chamapanhe vagabunda...) a isso!



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