quinta-feira, 30 de junho de 2011

Especial - Desventuras Juninas


 "Alavantú..."

   Junho: mês de santos, de festividades, de comidas típicas, de tradições. Entretanto, para um cara anti-social como eu, tudo não passa de um grande tormento. Durante trinta longos dias terei que suportar o triplo das músicas de forró de gosto duvidoso, além do estrondo das bombas rojão, do cheiro "ambiente" de pólvora, da fumaça ardendo nos meus olhos (me fazendo chorar de raiva) e de uma infinidade de comidas sem graça feitas de milho (eu não gosto de milho). Se eu tentasse mencionar tudo, teria que reviver o mês inteiro, o que eu com certeza não quero fazer. Mas, dentre todas essas coisas "agradáveis", existe uma da qual eu fujo como o diabo foge da cruz: a dança.

   Não me levem a mal, eu até gostaria de dançar agarradinho, tirar uma casquinha, cheirar o cangote de uma matuta e me aproveitar de sua inocência (mesmo que fingida). O problema, o GRAVE problema, é que eu nasci com uma total incapacidade para a dança... O velho "dois pra lá, dois pra cá", para mim, é mais complexo do que física quântica. Sério. Muitas garotas já tentaram me ensinar, de primas à namoradas, mas nenhuma delas conseguiu o milagre de me fazer dançar ao menos o básico.

   Uma vez, convidei a garota mais gost.., digo, bonita do bairro para dançar um arrasta-pé no palhoção. Ela me olhou dos pés a cabeça, mas parecia surpresa com a minha ousadia (afinal, não sou lá essas coisas) e acabou concordando. Foi um dos maiores vexames da minha vida... acho que até hoje o pé esquerdo da garota não deve ter se recuperado, sem falar que eu quase tropecei em cima dela. Não chegou nem a durar uma música inteira para ela me dispensar. E o pior: depois dessa, fiquei a ver navios, pois qual era a doida que aceitaria dançar comigo? Era melhor ficar só na pamonha, mesmo não fosse a minha vibe.

   No ano seguinte, tentei dar uma de esperto e convidei a garota mais feia do palhoção para dançar. A lógica foi essa: convidar primeiro as mais feias, para tentar aprender o básico sem me preocupar com o vexame, e só depois arriscar vôos mais altos. Mas foi um desastre. Eu não só pisei no pé dela como também, depois de me empolgar um pouco, tentei rodopiá-la e acabei derrubando a besta-fera no chão. Depois dessa, nenhuma garota quis correr o risco...

   É claro que, depois de muitos fracassos, acabei desistindo. Minhas namoradas (falo no plural não por terem sido muitas, e também não por terem sido ao mesmo tempo, mas você deve ter entendido) até tentaram, mas eu sempre dava uma desculpa esfarrapada... Tá, eu até tentei aprender alguma coisa com elas, mas paciência é uma virtude da qual minhas namoradas pareciam jamais ter ouvido falar. Aí, fica difícil...

   Esse ano, protelei o quanto pude, mas chegou uma hora que não teve mais jeito e tive que ir. Chegando lá, começou a chover, e o pessoal correu para se abrigar no palhoção. Mas a chuva estava muito forte e acabou estragando a festa de qualquer jeito; o lugar foi ficando vazio e desanimado. Aproveitei para arrastar o bonde e sugeri que voltássemos para casa.

   No caminho de volta, minha namorada provocou:

  - Você bem que gostou, não é...? Parece até que jogou praga! Poxa, tava tão afim de dançar...
 - Claro que não, meu amor! - me apressei em responder. - Eu queria muito dançar com você, até andei treinando em casa, tô bem melhor sabia? Mas não esquenta, outro dia a gente vem... se você quiser... - disse, só para tentar agradar.

   Mas por dentro, deu vontade mesmo foi de gritar:

  - OBRIGADO, São Pedro! Fico te devendo uma!

(...)

"...Anarriê!"