quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Prólogo I


 

  Para todos os lados que eu possa olhar é sempre a mesma coisa: eu vejo um bando de hipócritas cuidando de suas vidinhas medíocres, idiotas que não valem o ar fétido que respiram. Estranho. É mais ou menos isso que vejo quando me olho no espelho, mas no caso é apenas UM idiota...


   Liam Thomas, 17 anos. Atualmente cursando o 3° ano do ensino médio.


PRÓLOGO - PARTE I



 "Parece ser extremamente difícil perceber que o mundo está lentamente caminhando para a própria cova. Ninguém tem a coragem de fazer alguma coisa, QUALQUER COISA que possa realmente mudar TUDO. A sociedade me enoja. As pessoas preferem viver no comodismo, são preguiçosas demais para tentar e por isso negligenciam a possibilidade da mudança. Acredite, essa possibilidade existe, ou deve existir.
  Odeio pensar que esta seja a verdade, que não exista esperança. O rumo que as coisas estão tomando, toda essa merda. Não. Odiar já não é o bastante... Há apenas uma lacuna que não pode ser preenchida, uma angustiante sensação de vazio. É como uma fenda que esmaga o meu coração. É frustrante...
  Qualquer um pensaria logo em por um fim nisso. Quero dizer, será que não seria mais fácil me jogar de uma ponte? Não. O suicídio não adianta, pois não provocaria nenhuma mudança significativa. Absolutamente NADA. Os "cidadãos de bem" continuariam acordando, comendo, cagando e andando, e quem sabe, fodendo, para depois dormir novamente e TCHAM! amanhã é um novo dia. Espere um pouco, me deixem  reparar o "e quem sabe, fodendo", porque eles sempre fodem com tudo. O inferno são os outros, disse um gênio, certa vez. Será que na verdade, o inferno sou eu? Estou começando a considerar a hipótese...
  É como eu já disse, nenhum esforço, nenhuma mudança. E seria: "Buááá, morreu!". Mas e depois? Não sei se alguém iria no meu funeral. Aposto que o meu tutor, Lionel, preferiria tomar uns tragos por aí do que ter a decência (ou não) de me enterrar. Amigos? Não, eu não sou tão sortudo. E também, quem se importa? Quero dizer, quem se importa de verdade?
  Merda, chega dessa falsa autopiedade. Muitas vezes o meu raciocínio tende a seguir esse caminho. Vamos seguir em frente...
  Os senhores diriam que é fácil condenar os outros, mas e quanto a mim? O que eu faço pelo mundo? Se o argumento é esse, lá vai a resposta: é, eu sou covarde o suficiente para sentar ao lado deles à mesa da negligência e da ignorância. Aplausos. É assim que funciona. Irônico, não é? É um puta de um ciclo vicioso...
  Deve ser por isso que escrevo essas merdas. Digo, esses pensamentos, essas idéias. Como uma forma de extravasar todo o desapontamento, uma maneira de "fazer algo". Eu sou um estudante mediano sem nenhuma perspectiva de futuro. Uma pessoa sem nenhuma vontade. Talvez meu único e não comprovado "talento" seja escrever. O que eu poderia fazer? Brilhante..."

  Eis o prólogo. Liam suspirou.  Minutos após escrever o primeiro rascunho, tinha produzido a primeira página. Era inédito.  Deixou o bloco de notas em cima da escrivaninha, junto do copo de requeijão que servia de porta-canetas, do despertador eletrônico e de algumas folhas de papel usadas, e se largou na cama. Ficou observando o teto por muito tempo, pensativo, antes de finalmente adormecer.
  Sonhou com um bêbado suicida subindo as escadas sujas de um edifício abandonado... rumo ao desfecho de sua vida. Daria um belo conto...



  Ele ainda não sabia, mas um fato aparentemente irrelevante iria mudar para sempre a sua vida. E também a porra do mundo.

Continua!
(Next: Prólogo II)

- Image by Galifardeu; The Last Letter, in Deviantart. -